28 de nov. de 2010

Simples. Um abajur está aceso do outro lado da cama. O semáforo está desligado na avenida. O castelo está em chamas. O navio nunca chegou onde eu moro. Não há porto.
Alguém grita da cozinha. Um parto, uma ida ou uma libertação?
O manifesto da decomposição dos números. O dinheiro o absurdo da felicidade.
" Sorrisos, creme dental e tudo. E por que é que a felicidade
anda me bombardeando? Diga, Zezé.
- Anda o que, Dodó?
- Anda me bombardeando.
- Ah! É pra provar que ninguém mais tem o direito de ser infeliz,
viu, Dodó?"
A bolsa estourou. O grito continua. A modernidade é extremamente nula.
Abóboras plantadas na calçada sustentam a juventude.

23 de nov. de 2010

a sublimação leva à criatividade!!! Aproveite!

Hoje estou feliz e triste ao mesmo tempo...porque vejo tudo tão programado...tudo tão comum de todos...e sinto que o que faz seja isso...porque já fiz isso...
é uma forma de deixar o corpo ir até trombar na próxima parede e parar...relaxar...
Imaginar e ter ansiedade de tudo foi meu mal...era como se vc estivesse fugindo duma prisão e entrando em outra...e talvez eu demonstrei que tinha muitas chaves pra trancar você por aqui e não dar tempo pra pensar e decidir isso e aquilo.
quero aprender a segurar certas palavras..sentimentos...talvez assim o verbo viraria carne...as palavras dizem e dizem...as palavras se perdem na caixa no e-mail...na voz...no telefone...em qualquer lugar...O mundo é cheio de pessoas legais......mais não quis ficar...não quis...
como se pra tudo na vida fosse evolução...sempre começando lá embaixo...nada não muito rápido...nada assim...tão decadente.
Há muito sentimento ...coisas que me deixam assim...mais avisou o tempo todo...me avisou...vc me avisou...então....relaxar faz muito bem.

"Acho que pensar não é libertação.
A coisa é procurar ocupações. Sublimar, como já dizia Freud. "


eu adoro o dadaísmo....sublimar pela arte...
algo assim...procurar entender e buscar libertação é jogar pra fora...é deixar...
mas...vou comprar cerveja pra festa..
beijo

22 de nov. de 2010

A dor é quente. As mãos geladas enquanto a testa flui sangue surrado.
Apanhou do cérebro, ficou puto e esquentou. O pensamento é fecundar as células enquanto o corpo brota vulcões. E a saliva, olhos cabisbaixo, vontade de afogar as estrelas, fogos de artifícios pairam no ar.
O frio, o calor, o odor. Hospital Psiquiátrico, hospital.

19 de nov. de 2010

Suspeito que o destino não seja correto ou seria o pensamento uma enorme bola de neve.
Macia ou cremosa, livre associação pra saborear seus mais instintos tecidos. Mais não, não há espaço entre os desperdícios. Num dia é o tempo, noutro é o vento, o sopro maldito de uma herança sem fim dos ventos e ventos.
Sentar e sentir o sangue, abençoar a tristeza por livre e espontânea vontade de não saber o que você é quando o que está longe quer perto e o que está perto está longe.

14 de nov. de 2010

Nada no bolso, mas alguns trocados escondidos atrás da orelha.
Uma noite é apenas uma noite. Enquanto um tenta resolver o teorema de pitágoras o outro anda numa corda bamba, macabra engolindo a própria língua.
Porque o mundo social é imagem depravada, consumida e desordenada daquilo que a realidade está longe de acontecer?
A confiança está na porta, as pessoas estão lambendo os sovacos, umas das outras, sem dó nem piedade, enquanto a língua quase apodrecida é mordida pelos dentes.
Hoje tenho o mundo em minhas mãos. Já não desisto, nem mesmo insisto. Sou a idéia do meu tempo, o cérebro decadente de alguém inevitavelmente surdo, cego e mudo.

11 de nov. de 2010

Enquanto eu me despedia da saudade
Lá dentro da garrafa de absinto
Uma fada verde musgo transparente sorriu
e logo perdeu os dentes mordendo os dedos

O compromisso e o suspense
o tapa no rosto e a maldade do fim
num desespero simples de quem fez realidade
virar ilusão

Eu ainda guardo os quadros na estante
as fotos semeiam o computador de idéias
e se as escolhas fossem definitivas?

Queria um pouco mais de tempo
talvez mais um gole, um sorriso
a existência do pecado mútuo
a suave expressão de existir

Ímã não é sentido
sufocar o desespero
deixar o tempo ir embora
assim,

a pele tão macia
me puxa, me leva
tão iguais, tão pertos e
definitivamente
anjos

9 de nov. de 2010

aos que morrem

Moscou, 3 de junho de 1985

Fogo! A lata cheia de formigas na geladeira velha. O marido maldito espancando sua esposa. O selvagem quebrando pedra. O sorriso falso. A vida sem fim no fundo de um enigma: "Quem é você?" O amor é talvez a coisa mais besta que existiu. O mais pesado do enigmas, um objeto de desejo, um desejo que vira um objeto, o objetivo alcançado, o sustento dos desejos, os dilemas nas cartas, nos testamentos da porta da Santa Igreja.
Não me reconheço mais. É respeitável que meus olhos sejam mutações. Me empresto a você e você não devolve.
Num dia, naquele dia, noutro dia.
"Tem dias que a gente se sente..." Chico solucionava a moral do sofrimento, a arte é seu corpo composto por urgências. Deixe com que a paciência não desfrute dos seus minutos. Zombar do outro, zombar do chão, molhado e cuspido, pisado, lama de ossos triturados.
Peço que me per-doe, que descubra o que guardo dentro dos meus óculos.
Óculos escuros te deixa invisível, entre nos banheiros femininos.
Eu envelheço impaciente, suspirando pra que talvez, derepente, o verão chegue logo.


ERNESTO FLORES
Rua Alves de Carvalho, 33
Hospital de Lunáticos Roma

3 de nov. de 2010

Bem perto da cadeira um osso, um osso pra cachorro.
O cachorro se chama James e seu dono Freud. Freud perde os minutos em internet, tereré, trabalho, leitura e entretenimento. Freud grita o nome de James toda vez que passa pela porta mais nunca acaricia sua fuça. Outro dia ele brincou com James. James latia freneticamente e corria por longos cinco minutos. Freud Não tinha tempo e nem conseguia para o tempo. James latia de fome, Freud sentia a brisa nas estrelas. Freud perdia a esperança, James sorria da prisão.
Entre anos e anos, dava pra contar no dedo quantos dias esteve com James. James morreu de tanto latir. Freud é Deus.

Suspender as costas com argolas

No parque de diversão
entre o dinheiro da roleta
e o trem fantasma
os ossos espremidos de uma criança

Na porta da sacanagem
um espetáculo independente de terapia
os anjos salivam água oxigenada
e transformam o sangue em ácido

Corrói o cérebro até o inferno
num poço tão fundo até no japão
Lá é muito claro, muitas luzes
a rua é fruto da evolução

Os macacos comem os restos
das pessoas mortas no parque
Os macacos sempre querem
escondidos dentro das bolachas

Um pulou ali tão longe
na cabeça de um zumbi

o nariz está entupido
sangrando luzes
os vermes estão roendo
minhas pernas enformigadas

Carreguei minha esperança
com dores e doritos
enchi a fome de sacanagem
e desisti de entender

com quantos litros se faz uma criança, jogada, espatifada em cima da cruz, mutilada pelas balas, salgados e odores moralistas das mães.