9 de nov. de 2010

aos que morrem

Moscou, 3 de junho de 1985

Fogo! A lata cheia de formigas na geladeira velha. O marido maldito espancando sua esposa. O selvagem quebrando pedra. O sorriso falso. A vida sem fim no fundo de um enigma: "Quem é você?" O amor é talvez a coisa mais besta que existiu. O mais pesado do enigmas, um objeto de desejo, um desejo que vira um objeto, o objetivo alcançado, o sustento dos desejos, os dilemas nas cartas, nos testamentos da porta da Santa Igreja.
Não me reconheço mais. É respeitável que meus olhos sejam mutações. Me empresto a você e você não devolve.
Num dia, naquele dia, noutro dia.
"Tem dias que a gente se sente..." Chico solucionava a moral do sofrimento, a arte é seu corpo composto por urgências. Deixe com que a paciência não desfrute dos seus minutos. Zombar do outro, zombar do chão, molhado e cuspido, pisado, lama de ossos triturados.
Peço que me per-doe, que descubra o que guardo dentro dos meus óculos.
Óculos escuros te deixa invisível, entre nos banheiros femininos.
Eu envelheço impaciente, suspirando pra que talvez, derepente, o verão chegue logo.


ERNESTO FLORES
Rua Alves de Carvalho, 33
Hospital de Lunáticos Roma

Um comentário:

Akemi disse...

esse vazio nos acalma..