28 de dez. de 2010

Exista, mesmo que os ossos sejam apenas pra sustentar os desperdícios do corpo. O pecado é o tempo que chega tão depressa e os sonhos tão longes e tão pertos. Presos pelas mãos de anjos no prédio de 33 andares.
Voar é distração. O avião me incomoda quando descubro que não estou num ônibus e que o chão não é tão logo ali, sinto que a viagem da vida é turbulência e sol.
Acordar, almoçar e escovar os dentes. A saudade de um ano, em uma semana. Trabalhar é sol, trabalhar é a busca do sol. Protetor solar nas mãos, as idéias são como espelhos, refletem as puras verdade e inverdades de um ser humano livre de qualquer realidade, jogado e cuspido no molho perpétuo do caos, onde tudo não é milagre e a morte prematura do cérebro é simplesmente o esquecimento do futuro.

14 de dez. de 2010

A visão do inverno, inferno céu de toda euforia pulsante nos pêlos do corpo todo.
Há uma criança sorrindo num canto escuro do quarto fedido de merda e esgoto. Pra que ligar? A existência é algo tão degradante que a melhor das desgraças é a euforia da vida.
Tem dias que acordo nublado e feliz, noutros sol e solidão. O desgosto é líquido e filtra os ruídos pra que a paz fique, pra que ela me deixe sobreviver, pra que possa respirar e por aí seguir na vida melodramática de um sentido apurado de confusões, ilusões, felicidade acima de tudo.
Sou a pessoa mais feliz do mundo e espero que esse presente seja consumido como uma floresta em chamas, uma lasanha de queijo ou simplesmente como num sorriso.

INTERDIÇÃO

Desperdício de opiniões, orações, credos e suspeitas de malditos estados de vida.
Meu livro está escrito debaixo do braço e meu cérebro é decomposição. Não escuto mais os murmúrios da multidão, da maldição, da manipulação. Peço aos deuses dos tambores a batida que vai destronar e desmitificar a realidade. Um mantra selvagem que deixe a vida livre, constante presente e passado desperdiçado na mesa com um arroto profundo de gozo sustenido.
A clínica está fechado, não há comida para deuses, apenas porcos famintos, secos, sentidos, suados, frutos do ano, da perdição dos números, das flores que não são colhidas, dos amores interrompidos por guilhotina, das melancolias de um dia, dos desespero de um ser humano digno de suas próprias angústias.
Despeço

12 de dez. de 2010

Oi, aceita um veneno?
Daqueles que te deixa dormindo até a eternidade.
É engraçado quando já não se encontra o paraíso, já não se encontra o inferno, já não se encontra a realidade. O mistério de tudo isso é meu desejo sem fim.
A senhora perdeu a virgindade no semáforo. Sessenta segundo da mais pura hamornia dos carros, alcool e gasolina, queimando e despesdiçando saliva.
O mistério do futuro está apenas no pensamento, na suspensão dos desejos ao inferno e paraíso, do momento exato de deixar com que o caos tome conta, libertar é existir.

8 de dez. de 2010

fiz em partículas
a anunciação do futuro
protestam as freiras e seus sermões
o natal anuncia a ressurreição

O caos é paralelo
ao desrespeito de uma lembrança
um simples gozo
ou um modesto medo

Talvez os brincos da orelha
tampam o brilho de uma interrogação

Sentado na estante, um Buda
Olha pra mim como quem não quer nada
Sorri!

Um tempo que se ganha
um momento que respira
num desespero libertino
só, apenas
porque fiz o amor que ela nunca teve, existir

5 de dez. de 2010

Máquina do Tempo

"Fure seu olho esquerdo" - o livro consumia minha alma e não pensei duas vezes em pegar a caneta mais próxima e furá-lo. A dor é algo terrível e inesquecível, a visão nunca mais seria a mesma...mais a vida segue.
Enquanto eu me despedia das palavras, pensava o quanto fui manipulado por essa ação, quando o sentimento é suor e desespero.
Quando senti os olhos dela aos meus, o medo de olhar diretamente, o medo de saber que ia me perder...
Os longos dias que se passam, meu desejo moído sem decepção.
Ela me disse que apenas teve uma vontade. Quem tem vontade pode ter saudade?
Meu olho esquerdo está tampado, nas lembranças da retina.
Nunca achei que seria fácil, nem difícil. Nunca achei nada de nada. Apenas tive a maldita alucinação de ver eu seu sorriso mais que dentes.