24 de nov. de 2008

O policial

Do outro lado dava pra ver aquele vagabundo. A fumaça subia e a brisa rompia os ligamentos das pernas, mãos, costas. Apontar a arma como quem vende uma roupa ou um caixa do banco que cobra uma dívida... Lá estava meu cliente.
A arma apontada e o grito de raiva saía da minha boca como se ele fosse um verme asqueroso e destruidor de família. A minha mão tocou aquele rosto seco em uma martelada; a brisa já não soava como saída daquela lata. Aquele menino, era minha função.
Todo mundo tinha um código. Cada indivíduo atuado em flagrante recebia uma marca. A minha era simples, com um caco de vidro, desenhava a letra P. Cada policial recebia uma das letras da palavra "POLICIAL" e quando era completada, escolhia a melhor forma para matá-lo.
O garoto ensangüentado gritava por socorro. Tive que fazer engolir os dentes.
Quieto no canto, pediu para mostrar o braço. No braço só faltava uma letra: P.
Deveria pensar duas vezes antes de matar.
Quantos anos? 14. Estuda? 6ª. Família? Família?
O silêncio rompia...
Família?
Família?
Não vai falar? Não vai falar?
Com um tiro na cabeça, desperdicei uma bala e perdi um cliente. Todavia, portanto, porém, tudo se perdeu, jogado no mato, o fogo consumia, ninguém sabia, que aquele menino era eu.

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